sexta-feira, 6 de maio de 2016

Mudar de vida aos 41...

Hoje, a propósito de um excelente texto do Público, dei por mim a pensar como é, de facto, mudar de vida aos 40 (no meu caso 41)...
Tudo na primeira pessoa... sem filtros...
É assustador. Não há como dizê-lo de outra forma...
Há momentos de pânico, momentos em que pensamos se não teria sido melhor ficar tudo na mesma... ainda que não fosse feliz, pelo menos estava tranquila...
Há momentos em que penso que não sou capaz... que não consigo arcar com todo o mundo nos meus ombros...
E, mudar de vida, aos 41 anos, com 3 filhos pequenos?
Nada mais tenebroso... não por eles... por eles não!
Eles são o meu mundo, o meu porto de abrigo, o melhor de mim, como diz a fadista...
Mas sei que vou ter de os ajudar a crescer, a serem adultos felizes - é o que mais desejo: mais do que ricos, com o curso xpto, etc... desejo que sejam felizes...
E é angustiante saber que estou praticamente sozinha nessa travessia... (o pai está presente, é presente e sei que posso contar com ele para tudo e em todos os momentos)
Na primeira pessoa é difícil expressar a panóplia de emoções e sensações que me fazem seguir em frente e mudar de vida aos 41 anos...
Mudar de casa, regressar à cidade, à minha cidade... É fantástico sim, mas assustador...
A casa é maravilhosa para esta nova vida. O local fantástico e perfeito para esta nova vida. A cidade é ideal para esta nova vida...
Mas começar tudo de novo é aflitivo...
Os miúdos estão felizes, claro que sim, mas tenho medo por mim e por eles, pois vão, também eles mudar de vida...
O projecto de vida de de viver numa vila, no campo, numa vivenda com cão e gato, com família tradicional (pai, mãe e filhos), com amigos que vão desde o berçário ao secundário acaba aqui para os meus filhos e eu sei que eles estão felizes mas estão assustados... e eu ainda mais por eles...
Deixo de estar casada, mas não volto a ser solteira... assumo o estatuto de divorciada... que palavra feia... não gosto dela, mas gosto da liberdade que me devolve.
Mas... ainda estou a aprender a viver com esta liberdade de poder sonhar, querer, amar, e ser feliz sozinha...
É complicado, não me venham com histórias...
É libertador, sim, quando saímos de um casamento que já não nos preenchia - só tinha por base uma grande amizade - mas não é fácil...
Sei lá eu viver agora como rapariga - sim, porque me sinto como tal - livre e desimpedida? Presumo que seja como andar de bicicleta, que não se esqueça, mas é dose... não é fácil, e o mundo em especial o mundo das relações humanas e até amorosas não está como era há 18 anos atrás... e eu não tenho 23 anos...
Não mudo de emprego, nem de local de trabalho... Valha-me isso que é a única segurança que mantenho nesta fase de revolução...
Mas... estou feliz.
Sinto-me como uma menina que vai pela primeira vez à Feira Popular - e como eu gostava de ir à Feira Popular... - Feliz e ansiosa pelas novidades, brincadeiras e alegrias, mas assustada exactamente por essa novidade, pelo desconhecido, pela renovação...
De facto, como li naquele texto que indiquei em cima, a maior mudança não é de casa, cidade, escolas, amizades, etc... a maior mudança é dentro de mim...
Dentro de mim... E essa sim é a mais assustadora.
Sempre fui uma lutadora, habituada a superar-me em tudo, mas de repente, e aos 41 anos descobri em mim facetas que desconhecia. E descobri que almejo a todo o custo ser feliz. Não exijo nada menos que isso... Ser feliz.
Dou por mim a querer ser feliz como nunca fui. A querer amar como nunca amei.
Dou por mim a querer viajar, conhecer, ler, apreciar... Parece que os dias são pequenos para tanta novidade na minha vida. Estou sedenta de tudo o que me rodeia.
Tenho novamente vontade de cantar, de dançar, de ser eu própria.
Sim, porque a maior mudança... aos 41 anos... foi ao centro de mim... foi encontrar-me como nem eu sabia que era. Descobri um eu que nem eu conhecia - soa estranho, eu sei.
E estou a adorar esta viagem ao centro de mim. Cada dia me encanto mais com isso. Mas, lá está, é assustador, pois tenho de conviver com os meus medos, os meus fantasmas, as minhas inseguranças.
No entanto, cada viagem ao centro de mim trás consigo uma superação, menos um medo, menos uma insegurança...
Não há como dizê-lo de outro modo... É assustador... Dá pânico... Mas é muito, muito enriquecedor.
A maior mudança está na minha cabeça e no meu coração e esses, agora, e de agora em diante apenas a mim pertencem...
Um dia destes assustei a minha mãe dizendo-lhe: A C. que conhecias morreu... não existe mais. Claro que era uma metáfora, mas assustou-se, coitada.
No entanto é verdade, mudei de tal maneira que não existo mais como era... nunca mais.
E é isto... Mudar de vida aos 41 anos...

2 comentários:

  1. é mesmo isso ... acho que acontece a todas as que passaram e passam pelo mesmo ... um dia ainda vamos ser realmente felizes... bjs

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  2. é comum ouvir esse discurso que fazes da sensação de liberdade depois do casamento terminar.
    Muitas felicidades

    Maggie

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